A INTEROCEPÇÃO
A Clínica Médica que é ensinada nos livros, aplicativos e cursos não contempla tudo o que vemos na prática médica. Escrevemos, então, este ensaio acerca de uma condição muito comum no dia-a-dia do médico clínico geral.
A queixa subjetiva sem uma comprovação ao exame físico ou por exame complementar é sempre um grande desafio.
Ela pode ser apenas criada, na quase totalidade das vezes, para um ganho pessoal. Entretanto, muito mais frequente, ela é modificada, ou seja, está ou esteve presente e foi alterada em sua intensidade ou em suas características.
O paciente se fixa na queixa e fica à espera de um diagnóstico e que para ele seja convincente. O tratamento sintomático, sem o diagnóstico, não funciona. O diagnóstico certificando de que está tudo bem e que está saudável também não funciona. Atribuir a queixa à ansiedade, ou à “cabeça”, é pior ainda.
O que fazer?
Traçar uma estratégia em que os seus principais aliados serão a empatia e o tempo.
A empatia para escutar, esmiuçar a queixa, mostrar interesse e empenho. O tempo para que durante a investigação o paciente perceba pelas suas respostas que se tivesse alguma coisa já teria aparecido de alguma forma.
“Mas, o que é afinal, já que eu sinto?”
Pode ser uma alteração funcional. Pode ser a lembrança da dor. Pode ser o medo do que está por vir. Pode ser o fato de não saber o que é.
Como explicar?
Você sabe o que é consciência interoceptiva? A interocepção é o eixo de sensação corpo-cérebro relativo ao estado do corpo interno e seus órgãos viscerais. Ou seja, há uma interação entre o corpo e o cérebro.
Na consciência interoceptiva você toma conhecimento da funcionalidade do seu corpo. O que é feito de maneira automática e autônoma, sem a necessidade do seu conhecimento e da sua vontade, passa ser motivo de concentração e com isso percebe a funcionalidade, tanto que é comum o relato de que quando se está com a atenção dirigida para outro afazer, deixa-se de sentir a queixa. Os impulsos viscerais chegam à consciência e afetam o pensamento que geram a emoção e o comportamento.
A consciência interoceptiva com frequência está associada com a ansiedade, com o humor deprimido e pode se relacionar ao cognitivo e aos sentimentos. Qualquer sistema orgânico pode ser o foco da atenção, mas o predomínio por uma larga diferença é dos sistemas cardiovascular e digestivo.
O tratamento envolve sobretudo o esclarecimento (não confundir com tentativa de convencimento). A resposta satisfatória só virá quando o próprio paciente se conscientizar e quiser provocar mudanças. A terapia cognitiva comportamental é um instrumento de apoio e transformação. O tratamento medicamentoso, quando aceito pelo paciente, pode ser através de antidepressivos, ansiolíticos, analgésicos, relaxantes musculares e outras abordagens sintomáticas.
Clínica Médica Reflexões é como um café, onde o leitor se senta com o texto e aprende a Medicina das entrelinhas. E deixe seu comentário, pois é muito importante que durante o cafezinho, a gente também bata um papo!